Eu não sabia que estava presa até o momento em que desejei sair dela. Quando minha mente se abriu e comecei a perceber os esquemas, tudo o que envolvia a igreja. Ouvi muito durante meus 25 anos lá dentro, dia após dia, sempre as mesmas coisas. Tudo o que não podíamos fazer e tudo o que deveríamos fazer para sermos abençoados e aceitos por Deus. Isso já era uma prisão mental, mas eu não entendia dessa forma. Eu não aceitava outros tipos de pensamentos, ou formas de se viver. Para mim, a igreja já tinha todas as respostas, não aceitava outras possibilidades. O caminho era aquele e pronto. Seguir a Cristo era seguir a A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Sair da igreja é ser perseguido primeiramente por si mesmo. Temos medo de negar "verdades" únicas que estão na Terra. Isso foi incutido em nós, a palavra certa é essa, incutido! Foi feito de uma forma tão profunda, que nos causa um medo terrível de sair. Quando vamos ao Templo, Satanás nos ameaça em um filme, dizendo que, caso não honremos aqueles convênios feitos, estaremos no poder dele.
Sim! Nunca havia entendido isso, o quão tenebroso era. Não sabia que aquilo mexia comigo, até acordar para isso. Pensava que não me afetava, mas me afetava sim, estava lá no meu inconsciente. Depois que despertei para as verdades é que pensei: Não poderia ser diferente? Na casa de Deus Jesus Cristo poderia me olhar nos olhos e me fazer lindas promessas sobre guardar os convênios. Por que Satanás me olhava e falava comigo? Os convênios não eram feito com Deus? Não deveria ser Ele a me explicar tudo, todos os riscos?
Medo, muito medo de sair e uma desgraça acontecer na minha vida. No começo é horrível. Porque a vida toda ouvi coisas terríveis de pessoas que se afastam, que não tem mais o Espirito Santo, que andam perdidas, que não são mais abençoadas, que perdem tudo o que conquistaram na igreja, e especialmente, que perderia minha família eterna após essa vida. Os membros lá dentro esperam as tragédias acontecerem na vida daqueles que saem, como se Deus segurasse uma sacola cheia de maldições para distribuir entre aqueles que deixam de acreditar. Membros que frequentam a igreja também passam por muitas dificuldades, mas enxergam como provações. Os que se afastam e passam por dificuldades eles entendem que estão nas mãos de Satanás, levando uns tabefes. Isso é muito forte. Por isso sair é tão difícil, lidar com tudo isso dentro da sua mente.
Tem também a questão de como somos vistos e tratados quando deixamos a igreja. Somos os leprosos espirituais, com a doença contagiosa da perda do testemunho. O testemunho de todos na igreja é muito sensível, a verdade que os membros carregam é uma verdade frágil, é assim que percebo hoje. Ao mesmo tempo dizem que é inabalável...
Os membros da igreja evitam conversar com membros que se afastam principalmente quando eram membros fortes. Pensam: "ops, algo de errado aconteceu ali. Não vou nem querer saber." E tem aqueles que chegam e te condenam logo de cara.
Então percebemos que nossas amizades dependiam de nossas crenças, de sermos bons mórmons e que na realidade não tínhamos o verdadeiro amor de uma amizade.
O que essas pessoas não entendem é que dói muito, quando o chão cai sob os seus pés...Já sentimos dor o suficiente, nosso emocional e psicológico é completamente devastado, sem a necessidade de alguém duvidar de nossos sentimentos ou apontar o dedo para nos dizer que o inimigo está agora em nossa vida.
Quando saímos da igreja, além de tanta dor que sentimos, ainda temos que encarar os membros ativos com seus julgamentos, eles nos abandonam, tem medo de se "contaminarem" e vemos que nunca tivemos uma amizade com um puro amor.
Lindamente colocado. Você expressa a turbulência interna que é deixar a igreja de uma forma belíssima. A prisão mental que nos fazer criar é fortíssima e quebrar a barreira não é fácil, por isso é tão importante termos comunidades para ajudar no processo de cura, e blogs como o seu! Excelente Trabalho, parabéns!
ResponderExcluirMarcelo, Mormonismo sem Censura
Como diz uma grande amiga minha: "precisamos desfazer esses nós..."
ExcluirNão é fácil, mas sei que é possível! Realmente é mais leve quando compartilhamos com outras pessoas que passam pelo mesmo, e quando acolhemos alguém com as mesmas dores, pois assim nos compreendemos perfeitamente.
Muito obrigada por sua vinda e por seu comentário!