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Julgamentos, preconceitos, apostasia (quando saímos da igreja)

Existe uma frase, que foi citada pela professora Lúcia Helena Galvão, que diz: "Quando alguém desperta, é tido como um traidor, porque alguém que desperta expõe todos os demais." 

Eu sinto que eu despertei. Em relação a igreja e em relação a muitas outras coisas, consequentemente. E eu tenho observado que para os membros que ficam na igreja, somos traidores. Todos nós que decidimos sair. Não sei se é porque eu nunca senti esse ódio todo pelas pessoas que se afastavam da igreja quando eu estava lá, mas esse é um sentimento que eu não consigo entender. Cada vez mais vejo familias sendo separadas por causa desse discurso de ódio, de intolerância. Os pais, deixam de falar com os filhos, irmão deixa de considerar o irmão, amigos não se conversam mais. Quando um membro da família decide sair, ele é banido, excluído, julgado. Aquele que antes servia, não serve mais. Cada vez mais presencio o preconceito. É incrível como qualquer membro que é querido lá dentro, simplesmente deixa de ser, quando atravessa a porta de saída. Ninguém se lembra mais de tudo o que o membro fez lá dentro. Tudo o que eu ouço são julgamentos sem fundamento nenhum. Eles simplesmente repetem as mesmas coisas, acham que é assim pois é o que se diz lá dentro, é o que sempre ouviram dizer. 

Mas ninguém nos conhece o suficiente. Ninguém está dentro da nossa mente para dizer com tanta certeza: "ah, ele se afastou por isso; a a apostasia acontece quando não te cumprimentam na capela, a pessoa está mal emocionalmente...São tantas teorias sem sentido algum! Eles fazem um pacote e colocam todos juntos, com esses motivos superficiais. Sim, porque no meu caso e na maioria dos casos, os motivos são muito mais profundos e tem a ver com a veracidade da igreja, com o nosso despertar sobre coisas que não fazem mais sentido, quando finalmente descobertas. Sobre o quanto esconderam de nós a verdadeira história da igreja, que tanto ensinamos erradamente por aí. E o quanto ainda escondem hoje! E o quanto a igreja visa o lucro, e conseguem camuflar tudo isso aqui para os brasileiros.

São fatos. Não são ideias que vieram do nada. Basta buscar, basta pesquisar. E aceitar, que é a parte mais difícil. É difícil porque abala nossas estruturas, destrói nossos sonhos, desaba o nosso mundo. Por isso é que precisamos falar, desabafar. No meu caso e na maioria dos casos recentes, as pessoas foram completamente firmes na igreja. 

Há dois anos e pouco eu não me imaginava tendo um blog, um podcast, e falar a respeito de tudo isso. Essas coisas a gente não planeja, simplesmente acontece. Um despertar de consciência que pode acontecer com qualquer membro. Se aconteceu comigo, que era completamente fanática, que não enxergava nada além do caminho SUD, pode acontecer com qualquer um.

Quando saímos da igreja, somos atacados por todos os lados. Falam sobre nossa vida, dizem o que querem por aí. Calúnias, mentiras nas rodinhas de fofocas, nos corredores das capelas, durante suas visitas, pelas mensagens de whatsapp. Dizem que estamos nas mãos do inimigo. Planejam como será o nosso futuro, aqui e na eternidade. Falam em nome de Deus, são seus porta-vozes. Já nos dão o veredito final. Sentam em um banquinho e ficam aguardando alguma tragédia acontecer em nossa vida ou com nossos filhos.

Os membros precisam disso, sabe por que? Para poderem validar, confirmar seus testemunhos. Precisam sentir que estão certos, ao lado de Deus e nós, errados. Precisam se sentir bem naquele grupo. Infelizmente, os membros sempre vão atacar de alguma forma, eles não podem nos deixar sair sem alguma mancha. Porque se continuarmos sendo justos, honestos, pessoas de bem, estando fora da igreja, como eles poderiam justificar nossa saída? Eles precisam encontrar um erro, uma falha em nós. Se continuarmos sendo abençoados fora da igreja e felizes, como eles confirmariam suas teorias, suas crenças? Então eles dizem saber que não estamos mais felizes, claro. Porque em suas mentes existe a ideia (crença) de que, quem sai da igreja, foi levado pelo inimigo e ponto final. "Aquela familia que saiu parece estar bem, mas não por muito tempo." Sim, já comentaram dessa forma com a minha mãe a respeito da minha família. 

Na verdade, eles tem muito medo de que suas teorias não estejam corretas. Afinal, os que estão na igreja são os que merecem o amor de Deus, as bênçãos, pois são o povo eleito, separado para Deus, um povo santo. São muito melhores, são mais protegidos e abençoados. Suas dificuldades são provações de Deus e as nossas são castigos, maldições.

E se descobrirem que somos felizes do lado de cá? Que existe paz, fé e bênçãos, que nada muda? E se descobrirem que não pagamos o dízimo, mas nada nos falta? Temos tudo o que precisamos e recebemos  aquelas bênçãos, aqueles milagres inesperados exatamente com antes? E se descobrirem que Deus não exige sacrifícios de Seus filhos, porque Ele não precisa disso, muito menos nós. Já é muito difícil estar nesse mundo e Deus deseja a nossa felicidade plena.

Eu tinha medo de não usar mais os garmets quando abri meus olhos, mesmo sabendo que para Deus aquilo era apenas uma roupa, comprada na loja da igreja. Porque o medo é incutido em nós. Na maioria das vezes, lá dentro não percebemos. Só nos damos conta quando saímos. E quando o inimigo te ameaça no templo, você pensa: "não é comigo". Mas no fundo, aquela mensagem já foi para o seu subconsciente. Aliás, eu bem que queria ter recebido uma mensagem de Cristo no Templo, me incentivando e não de Lúcifer me amedrontando.

Falando sobre medo, existe aquele discurso: "Cuidado ao falar com fulano, ele pode te influenciar, o inimigo pode usar ele para te fazer cair, não busque, não queira saber o motivo, não vale a pena." E assim, os membros preferem ficar imaginando o quer teria acontecido para um membro tão firme sair do que ir direto a pessoa perguntar. E assim, começam a dar suas próprias respostas, que são mais confortáveis, tais como: pecou, quis pecar, não foi valente, se chateou com os membros ou liderança, não tinha um testemunho firme (como eu tenho), deixou de ler as escrituras, queria ser líder e não conseguiu, estava mal emocionalmente, era fraco, e muitas outras coisas.

Nunca vão dizer que alguém saiu da igreja porque não quer mais, ou que descobriu que a igreja não é o que diz ser, que descobriu coisas nunca antes mostradas, enfim, assunto proibido. Como diriam isso não é? Estariam atiçando a curiosidade e fazendo surgir aquela dúvida entre eles. E como diz Mario Cortella: "gente que não tem dúvida só é capaz de repetir." Então repetem tudo. E nós que saímos já sabemos de todas, absolutamente de todas as frases que vão falar por aí, as frases que irão nos falar, porque são todas impecavelmente repetidas, quase decoradas.

Quando saímos da igreja, não atacamos os membros que estão lá. Falamos sobre o sistema todo, de como nos sentimos sobre as verdades que a igreja esconde, daquilo que não concordamos. Mas não falamos das pessoas que estão lá, não falamos de suas vidas, dignidade e caráter. Temos amor por nossos amigos que ficaram, embora muitos deles nos vejam como leprosos, como perdidos e até como pessoas mortas espiritualmente e queiram se afastar, para se protegerem. É muito estranho passar por isso, mas cada um tem o direito de se sentir como quiser. Tenho uma amiga que disse que quando uma pessoa se afasta da igreja, é como se ela morresse. Para muitos eu sei que eu morri, não importa o quão feliz eu esteja agora, e o quanto eu me sinta mais viva do que nunca. E a coisa mais maluca é que muitos dizem que estamos enganados com a nossa própria felicidade. Pensam saber mais do que nós sobre o que se passa dentro de nós!

Os membros dizem que ao falarmos da igreja estamos falando mal deles mesmos. Que é como se entrássemos em sua casa e falássemos dela. Esquecem que dessa casa nós também fizemos parte. E não chegávamos apenas para comer e dormir. Trabalhávamos nela, dia e noite, conhecíamos cada canto e seus moradores. Ajudamos a construir e a recrutar mais trabalhadores. Demos o nosso suor. Não cuspimos no prato que comemos, como alguns dizem, porque nada foi de graça. Esse prato custou a nossa total dedicação, trabalho físico, mental, nossa ajuda financeira. Muitas vezes nosso sono, nosso tempo com a família. No meu cas, custouu todo o tempo da minha vida, pois minha vida era a igreja, estar na igreja e viver tudo o que a igreja ensinava. Não sabia viver de outra forma, que não fosse na alienação que a igreja me provocava. Eu já disse que não nego tudo de bom que vivi lá dentro, eu reconheço sim. A igreja me deu uma direção, mesmo que fosse a direção dela mesma, mas eu me tornei o que eu já tinha dentro de mim. O importante é que não abandonei minha essência, a melhor parte de mim. Eu abandonei o mormonismo mas não abandonei  quem eu sou de verdade. 

Eu que morei por 25 anos da minha vida nessa comunidade Mórmon, morei nessa casa, e depois descobri que essa casa não era bem aquilo que me mostravam. Ou seja, fui enganada. Mas querem que eu saia quietinha, pelas portas dos fundos, sem ser notada, sem falar sobre os meus motivos, engolindo minha decepção, me virando com o meu emocional. Seria melhor ter saído calada. Seria melhor para quem? Porque para mim não seria nada bom. Quem me conhece sabe que eu sempre fui muito convicta nas coisas que eu acreditava e continuo sendo. Eu sou extremamente sensível e emotiva. Isso tudo mexeu muito comigo. Hoje tenho 43 anos, vivi toda a minha adolescência na igreja, me casei e me tornei mãe. Eu sinto que eu tenho o direito de falar, de escrever, de me expressar. Eu estou aqui no meu canto, me faz muito bem me abrir. É uma forma de terapia e amor por mim mesma. Não estou fazendo mal a ninguém, pelo contrário, tem pessoas que precisam se identificar com as coisas que escrevo e falo. Quando compartilhei no facebook os meus motivos, apenas deixei o link do meu blog para quem quisesse entrar e ler. E muitas pessoas me agradeceram, pois isso que faço leva coragem para alguém que está na igreja e que tem percebido muitas coisas, mas não sabe o que fazer, como vão sair, ou pensam que estão pecando ou enlouquecendo. Pois não é fácil enfrentar as pessoas, não é fácil enfrentar uma chuva de pedras impiedosas que são jogadas em nós. De onde deveria existir o amor, a empatia e a compreensão, existe o preconceito e a intolerância.

Nos chamam de apóstatas. De acordo com o site Wikipédia, apostatar significa em grego antigo, apóstasis, "estar longe de". Tem o sentido de um afastamento definitivo e deliberado de alguma coisa, uma renúncia de sua anterior fé ou doutrinação. Afastento de sua fé anterior. Fé anterior. Sobre isso eu realmente me afastei. Mas sabemos como essa palavra tem um peso na prática. Usam de forma pejorativa, como se fôssemos pecadores rebeldes, que estamos contra Deus e contra tudo o que é bom. Esse afastamento de fé anterior pode ser uma fé no Islamismo, judaímos, cristianismo e tantas outras religiões, católicas e protestantes. Claro, todas elas tratam do assunto como algo muito sério, porque se consideram a doutrina verdadeira de Deus. No site Wikipédia diz: Dependendo de cada religião, um apóstata, afastado do grupo religioso no qual era membro, pode ser vítima de preconceito, intolerância, difamação e calúnia por parte dos demais membros ativos. Um caso extremo, é a aplicação da pena de morte para apóstatas na religião Islâmica, em países muçulmanos. 

Sobre As Testemunhas de Jeová: " As Testemunhas de Jeová, consideram como sendo apostasia, um membro batizado e conhecedor da doutrina que sai da organização e fala abertamente de modo crítico sobre determinados ensinos. Por acreditarem que sua organização é a única instituida por Deus na Terra, acreditam que ao apostatar a pessoa está efetuando uma verdadeira oposição a Jeová." Quando eu li isso eu pensei: É exatamante assim que acontece com A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias! Então pesquisando, nós sabemos que  antigamente a igreja até organizou um grupo que se chamava Danitas, e esse grupo perseguia pessoas excomungadas e dissidentes da igreja. O que quero dizer é que essa cultura de perseguir as pessoas por abandonarem a religião é muito antiga, existem vários grupos e na igreja não é e nem nunca foi diferente. Ela é apenas mais uma a não respeitar a liberdade do outro. De não aceitar a liberdade de pensar do próximo, de não respeitar o direito do seu irmão de seguir um outro caminho. A mudança de religião é um direito humano, esse ato é lagalmente protegido. 

Fico pensando no que há dentro do coração das pessoas que nos comparam ao próprio diabo. Eu tenho aprendido o que é o amor de verdade. Especialmente o amor que Jesus Cristo ensinou. E cada vez que eu vejo membros ativos, líderes, falando sobre os membros que se afastam, eu agradeço por não estar mais entre eles. Por meus filhos não fazerem mais parte disso. Eu não sabia, mas eu acreditava em um Deus muito punitivo e vingativo. Eu vivia com pessoas cruéis, que só diziam me amar porque eu estava lá, fazendo tudo da melhor forma possível, pensando exatamente igual a eles. Porque eu fiz tudo certo, até demais, e por querer fazer o certo é que a minha consciência me mostrou o que eu deveria fazer. 

A igreja tem suas coisas boas mas se paga um preço muito alto e só vamos receber essa conta quando abrimos os nossos olhos. Daí pode ser tarde demais. Muito tempo pode ter se passado. Por isso eu preciso falar e alertar as pessoas, ajudar aqueles que se interessam. Apenas isso. Eu não saio procurando ninguém e nem quero ou preciso agir dessa forma. Eu penso que falar o que se sente não é fazer mal a ninguém, muito menos fquando se fala a verdade. E o diabo não tem nada a ver com isso. Falar a verdade para mim sempre foi muito importante. É isso que eu fiz durante toda a minha vida, eu pensava estar defendendo a verdade. E hoje, como eu sei que me enganei eu sinto que tenho o dever de falar as coisas que eu sinto, de falar as coisas que eu descobri.

Ouvir no podcast: 

Parte 1: 

https://open.spotify.com/episode/0EELAm5RHXA4coltq3J7Ar?si=cIEWEOBvT6GYMWzTCseyHA

Parte 2: 

https://open.spotify.com/episode/3SfrlxQq0Qflc9lOKUVgGV?si=pHsxHQ2SSSGL74q5nA8kTA

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