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Meu primeiro desabafo, meus sentimentos...

 Olá! Eu e minha família nessa pandemia descobrimos a verdade sobre a igreja. Eu gosto muito de escrever e logo após minhas descobertas a respeito da igreja, eu escrevi algo para desabafar. Um pouco longo mas gostaria de compartilhar.

Sinto como se todos dormissem em um profundo sono e somente eu tenha despertado desse sono que eu vivia também. Isso é assustador. Eles não conseguem ver o que eu agora vejo. Onde eu estava durante todo esse tempo? Por que eu nunca havia percebido tantas coisas antes?
Se passaram 25 anos...
Só agora estou vendo que o Deus da igreja é totalmente diferente do Deus que eu sempre acreditei, desde minha infância até o início da adolescência e que eu tentava encaixar esse Deus no mormonismo...mas existe diferença do que sempre acreditei no fundo da alma...
O Deus da igreja Mórmon, é um Deus que se importa com coisas pequenas. Um Deus com uma lista enorme de tarefas a serem feitas, e se não feitas, te faz sentir indigna de estar com Ele. Um Deus que exigiu poligamia, e ainda às escuras. Mandou um anjo ameaçar Joseph com uma espada caso recusasse. Já começa por aí...e depois de um tempo não exigiu mais, simplesmente... Um Deus que negou aos filhos negros o direito de serem iguais aos filhos brancos, os proibindo de irem ao templo, homens e mulheres, por causa de sua cor, causando dor e sofrimento a muitos, e depois de tudo, não negou mais...
Claro que são tantas outras coisas que poderia escrever sem parar...
O fato é: Por que nunca percebi que quando me batizei, coloquei entre mim e Deus tanta distância, tantos rituais, tanta cerimônia? Meu relacionamento com Ele antes dos 15 anos já era tão intenso, tão próximo, tão acessível! Eu não me preocupava o tempo todo se estava sendo digna ou não em todas as coisas, porque eu já tinha plena confiança do Seu amor por mim. Eu não precisava provar o meu amor a Ele o tempo todo, pois conhecia meu coração. E eu queria fazer o melhor por Deus, por amá-Lo, e ninguém me exigia nada, nem mesmo Ele.
No encantamento da adolescência e no desejo de seguir o que sentia ser verdadeiro, abracei o evangelho. De uma forma muito intensa. O tempo todo recebendo ensinamentos. Acreditei em tudo e tudo fazia sentido pra mim. Eu era uma menina, fui absorvendo tudo. Eu mesma fui me amarrando, mudando minha ideias, construindo uma bolha ao meu redor.
Não percebia então, o quão arrogante muitas vezes agia. Dona da verdade, magoando pessoas ao defender a igreja de muitas coisas "absurdas" que me diziam, e que hoje a própria igreja admite. Claro, eu não me via assim. Me achava uma boa pessoa, sempre procurei fazer o melhor. Eu não me enxergava assim, só quando despertamos, sentimos vergonha.
Na missão, quando os meus olhos começaram a se despregar, ainda que muito sutilmente, senti um pouco de dor. Mas foi quando entendi que aquele mundo não era perfeito, mas a igreja ainda era e sempre seria. Então resolvi ser mais humana, compreender mais as escolhas das pessoas, julgar menos, inclusive, me julgar menos. Precisava seguir em frente, de algum jeito, mesmo muitas vezes saindo pesada da capela, cansada da hipocrisia, falsidade e muitas vezes arrogância, eu precisava, por Cristo, pois era a igreja Dele. Joseph Smith havia sido chamado por Deus para restaurar Sua igreja, um profeta sagrado, puro...
E assim, nesses últimos dez anos, casada e com três filhos, eu e meu marido percebemos juntos as mesmas coisas. A manipulação, o machismo, grupos privilegiados, falta de privacidade em nossas vidas, a falta do direito de dizer não a chamados, atividades, visitas, coral e não ser discriminado por isso e muito mais...
Mas era a igreja de Cristo.
Mesmo assim, minha mente foi se abrindo cada vez mais e enxerguei o mais importante de tudo: eu não era mais feliz na igreja. Isso passava pela minha cabeça como um pensamento vergonhoso, que nem eu mesma poderia permitir, então ele passava bem rápido pois eu não o deixava ficar. Mesmo assim, para mim, tudo ainda era verdadeiro, e eu deveria permanecer até o fim, com atitudes diferentes, com mais amor, empatia, humanidade enfim. Eu e meu marido resolvemos ser membros diferentes, dar atenção a todos, sem julgamentos, fazer o nosso melhor, sem querer saber da vida de ninguém, a não ser para ajudar, sem fotos ou postagens. Seguimos muito firmes.
Então chegou 2020 e a pandemia. Muitas coisas aconteceram, mas o que aconteceu dentro de mim foi uma grande surpresa. Tudo mudou. Lentamente fui despertando. Com a igreja fechada, me senti mais aliviada, mais leve, em paz, com tempo para refletir sobre minha vida, sem pressão...
Os olhos eram os mesmo mas a visão era diferente. Comecei a questionar esse Deus da igreja, a maneira dele agir, escolhendo o povo mórmon para chamar de seu, com tantas nações, povos, crenças e corações honestos no mundo! E como era difícil conseguir estar na presença Dele! Fui pesquisar a história da igreja fora da igreja, pela primeira vez me permiti isso e foi em algum vídeo na internet que fiquei sabendo dos Tópicos do Evangelho, pois nem sabia que existia. E talvez nunca saberia. E como foi importante pra mim! Saber de tantas coisas que eu nunca soube! Caminho sem volta, como dizem. Se Joseph não era quem eu pensava ser, se ele não fez o que eu acreditava ter feito, se o seu coração não era puro como eu confiava que fosse, nada do que veio dele poderia ser verdadeiro. A igreja escondeu isso de nós e ensinamos coisas que pensávamos conhecer super bem! Quanta ilusão! Quanta dor para mim e meu marido! Nossas crenças foram lançadas ao vento, nosso porto seguro desmoronou.
Enfim, a igreja não era verdadeira.
No começo tive muito medo, angústia, não sabia como criaríamos nossos filhos, não sabia para onde ir...mas aos poucos esse sentimento foi deixando nosso coração, e nos sentimos leves, felizes, tranquilos e em paz. Cada vez mais confiantes, com mais coragem e convictos. O cérebro vai se desprogramando, voltando a sua forma original, à sua essência.
Muitos amigos nossos que descobriram as coisas e saíram da igreja, nos serviram de inspiração e força, na certeza de que não estamos sozinhos nessa jornada que no começo é tão solitária. Também sabemos que fomos inspiração para outras famílias e isso é muito bom, pois formamos uma corrente de coragem! Porque é preciso ter coragem para enfrentar o desgaste emocional e todo o ataque pessoal sofrido.
Só quem passou por isso pode entender o que é ficar cega por tantos anos. Jamais saberei o porquê somente agora vejo tudo. Mas o importante é que aconteceu para nós e isso é muito libertador!🙏🏻

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