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Sobre o Templo- Parte 2 Manipulação, restrição, luxo e tensão

 Até aqui eu falei sobre como fui completamente envolvida pelos relatos de outras pessoas sobre o templo, quando eu era jovem. Especialmente pelos relatos de pessoas que eu confiava, que eu admirava e que estavam lá dentro da igreja comigo. Desde jovem ouvindo e lendo a respeito, aprendendo que ali era o local mais sagrado da Terra. E eu fazia essas mesmas afirmações a mim mesma todos os dias, não é mesmo? Inconscientemente, o foco era sempre estar digna de entrar no templo. Eu fui completamente sugada por essa ideia e eu fiquei plantada naquele solo mórmon, paralisada. Eu fui acreditando que somente ali eu teria uma boa terra e água suficiente para sobreviver.

                              Hinos e a manipulação através da música

É exatamente esse tipo de impressão, esse tipo de emoção que a igreja quer causar nos adolescentes. E já começam com as crianças: "Eu gosto de ver o templo, ali eu hei de entrar". Esse hino da primária traz muitas afirmações, apesar de ser pequeno.

"Ali eu hei de entrar...", ou seja, nada irá me impedir, como se fosse uma missão na vida daquela criança. O seu foco total desde aquela época, desde pequeno. Frases como: "...devo preparar-me desde já, é meu dever sagrado...porque o templo é a casa do Senhor...". São coisas assim que vão invadindo a sua mente. É a casa do Senhor e ponto final, a criança aprende que é assim e pronto. "Agradeço ao Pai por me ensinar, bem cedo essa verdade". Essa frase também mostra que a criança é privilegiada por ter esse conhecimento tão cedo em sua vida. De que ela está na única verdade e de que tudo aquilo é verdade absoluta e o templo é verdadeiramente a casa de Deus aqui no planeta.

Como eu já fui presidente da primária por alguns longos anos e tenho três filhos, entendia que era muito bom para as crianças aprenderem tudo isso tão cedo. Que os hinos ajudavam para que elas permanecessem no caminho certo, e que eram inocentes e bons.

Mas hoje eu vejo tudo isso tão claramente! É uma forma de induzir as crianças a fazerem tudo o que a igreja quer que elas façam. E também influenciam os próprios pais a fazerem, através dos filhos pequenos e também dos jovens, por meio de muitos hinos. A igreja incorpora no meio dos hinos (frases afirmativas e imperativas), quais seriam as atitudes que as crianças deveriam ter no futuro para serem aceitas por Deus e pela igreja. Atitudes em relação às doutrinas. E isso é uma forma de coagir.

É claro que quem está lá dentro não verá dessa forma. Eu não via assim. Mas a realidade, é que não são apenas hinos para simplesmente cantarem sobre o envangelho. Outros hinos como "Eu quero ser um missionário, quando eu crescer um pouco mais". No próprio hinário já diz que ele deve ser cantado decididamente. Ou seja, as crianças estão cantando algo que nem elas sabem realmente o que significa e muitas vezes nem desejam isso. As crianças crescem repetindo, mas elas realmente sabem? Elas sabem sobre o batismo, sobre tudo o que o batismo significa? Elas sabem sobre missão, dízimo, ordenanças, pecados, arrependimento? 

E quando a criança crescer, caso ela diga aos pais que não quer ser um missionário, os pais vão dizer: "Você cantava desde pequeno que queria ser um missionário!" O jogo da culpa. Ou até pior, o jovem talvez nem queira ir para a missão, mas essa música no seu inconsciente fica tocando e cutucando as suas emoções. O jovem se sente culpado por não ir. E acaba indo para a missão, por causa de tudo isso que já tinha sido imposto lá atrás, e acaba se rendendo aos desejos dos outros. 

E o que dizer daquele hino em que as crianças repetem o refrão: "Pague o dízimo, pague o dízimo, pague o dízimo sim!" Esse hino se chama: Eu gosto de pagar meu dízimo. Esse hino eu ouvi pela primeira vez no CTM.

Alguns hinos da primária são muito bonitos. Por exemplo, eu me lembro daquele hino "Ouvindo um cantar de um passarinho..." Esse hino fala sobre a natureza, sobre o amor de Deus. Os hinos poderiam ser assim, falando sobre Cristo, falando sobre Deus, sobre a vida, enfim. Mas a igreja coloca esses hinos com doutrinas impostas as crianças. Falando sobre ordenaças e coisas que realmente só a igreja acredita. Eu vejo uma manipulação muito grande. "Segue o profeta, segue o profeta, segue o profeta, sem hesitar". E qual profeta? Da bíblia? Não, o "atual". Então é para seguir aquele homem que se diz profeta, que está acima e o que ele diz é mandamento, não importa o que seja. Você não pode questionar ou duvidar, tem apenas que seguir.

Enfim, eu entrei no assunto dos hinos para mostrar como a igreja tem uma técnica de controle. Para controlar as nossas vidas, para controlar as vidas e as mentes das crianças, jovens e adultos. É muito nítido isso, pois tudo o que a gente repete, repete, repete, acaba se tornando uma verdade dentro da gente. Uma aceitação. O nosso subconsciente aceita, ele absorve. Ele acredita, confia e até cria situações para mostrar que aquilo é verdadeiro. Isso está no livro O poder do Subconsciente. Não sou eu que estou dizendo. Há muitos estudos também. Ainda que eu esteja falando bem superficialmente sobre esse tema, pois a coisa é muito mais profunda, entretanto, é muito óbvia para quem realmente quiser ver. 

                                    Entrada restrita (O templo não é acolhedor)

Eu falei sobre a preparação para entrar no templo, porque a entrada é restrita aos membros que se preparam e que têm um documento formal. (Uma carteirinha de acesso). Esse passaporte, por assim dizer, precisa estar assinado por duas autoridades da igreja, que são os líderes da igreja local. E para você, na sua cabeça, esses homens são superiores, pois apenas eles podem te dar uma autorização. Porque são líderes "chamados por Deus".

Sabemos que o templo não é para todos. Isso é fato. Por mais de cem anos, o templo não foi aberto aos negros, não foi permitida a entrada dos negros ou descendentes. Uma mulher negra foi selada ao falecido Joseph Smith como serva, para toda a eternidade e alguém entrou no lugar dela, mesmo que ela estivesse viva, porque ela era proibida de colocar os pés dentro do templo! E isso é um absurdo tão grande que é impossível não perceber que existe algo muito errado, mesmo que tenha sido no passado. Faz parte da história dessa igreja. isso aconteceu, é real. É como você soltar um fio de uma roupa e ver que aquela roupa vai se desfazendo cada vez mais. 

O templo não é para todos, porque dizem que é sagrado demais e ele não pode ser manchado por pessoas que estão em pecado. Em outras palavras: na casa do seu Pai, não entre sujo. Você precisa se lavar, se vestir bem, tirar os seus sapatos. Não venha como você está, Ele não vai te aceitar e ainda por cima você vai profanar a casa do seu Pai. Se você simplesmente entrar como você estiver, do jeito que você estiver, mesmo que você esteja cansado, precisando de apoio, de conselhos, se sinta perdido na vida, querendo se aproximar do seu Pai em um momento em que você tenha vontade...Não. Você tem que passar por uma entrevista antes de ter a aprovação de outras pessoas, assistentes do seu Pai, digamos assim. Se você errar, fallhar de algum modo, deixar de fazer coisas impostas por essas pessoas, que falam em nome do seu Pai, você vai ser impedido de entrar por um bom tempo. Bem, isso seria um modo de olhar para tudo isso.

Uma outra maneira de olhar para tudo isso também, é que uma pessoa que eles consideram indigna, poderia destruir a pureza do templo por causa do seu pecado, por não ter se preparado o suficiente. Bem, a pessoa poderia ter bebido uma xícara de café e ter ido ao templo, escondido isso de um bispo. Isso tornaria essa pessoa indigna. Ela poderia ter comprado no domingo, ou ido a um show no domingo. Poderia ter passado dos limites do namoro, ou deixado de pagar o dízimo integralmente. Isso seria uma condenação para ela, uma impureza no edifício do templo. Então, o que seria realmente errado, realmente pecado para Deus? Existe uma lista de coisas, claro, como tudo na igreja. Mas a minha pergunta é: O que significa ser realmente digno aos olhos de Deus? E quanto ao pecado do orgulho, da inveja, arrogância que existe dentro dos templos? Pessoas pisando umas nas outras com rispidez, estupidez, impaciência que, aliás, eu já vi muito lá dentro. Eu já brigas nos ônibus de caravana, antes mesmo de chegar no templo. Já vi desentendimentos de irmãs que não queriam ficar no mesmo quarto que outra no alojamento. Não concordavam e brigavam com a líder de caravana. A líder tinha que passar por esse estresse todo, ao lidar com mulheres adultas cristãs que estavam indo ao templo suupostamente super bem preparadas, com recomendação em dia. E o que dizer da desonestidade dos membros? Aqueles que têm negócios desonestos, que deram calote em muita gente, abusou de funcionários, mas que nenhum líder diz nada. Faz de conta que não sabe porque esses membros têm nome importante na igreja ou status. Será que todos os corações estão limpos? Será que o sagrado templo não seria profanado com sentimentos assim também? Será que algum ser humano estaria apto a julgar outro ser humano, decidir sobre a pureza do outro e se Deus o aceitaria dentro do templo? 

Eu vejo aquele Jesus que a gente conhece na Bíblia e eu posso garantir o que ele não concordaria com isso. A questão é que ele nunca falou sobre dignidade para entrar no templo quando esteve aqui. Aliás, ele nem dizia para as pessoas que elas precisavam ir ao templo. isso só veio com a igreja Mórmon, não tem como negar. Ela acrescentou muitas coisas como se Jesus Cristo tivesse colocado algumas regras a mais nos dias de hoje. Muitas coisas Jesus nunca falou enquanto esteve aqui. É imposto um medo muito grande para quem deixa de cumprir as regras da igreja e entra no prédio sagrado mesmo assim. Eu li algumas coisas inacreditáveis em um site da igreja, falando sobre o que acontece se você entrar no templo indigno.

Essa questão de dignidade, de ser digno ou não, é tão relativo! Tem coisas que não são vistas como pecados em outras culturas, coisas que são julgadas que realmente não são importantes, são pontos de vista, interpretações. E colocam como se Deus tivesse feito uma lista para o mundo todo e que tem que ser assim, dessa forma. E isso não faz sentido! A gente percebe que tudo isso faz parte de um determinado grupo que se uniu pensando da mesma maneira. E colocar Deus nisso tudo é muita covardia!

Outra forma de avaliar tudo isso é refletir sobre que deus seria esse. Ele tem uma casa luxuosa, sempre nos melhores bairros, em áreas nobres. A igreja diz: "para Deus, as melhores coisas, os melhores materiais". Eu praticamente passei minha vida ouvindo isso, eu absorvi essa ideia desse deus que inventaram no mormonismo, um deus que se importa com materiais de luxo. Que valoriza isso como se fosse um homem. Aliás, é assim que os membros veem Deus, como um homem exaltado. Então faz sentido que eles pensem assim. Um deus com tantas caracteristicas humanas. E a maior riqueza para Deus, com certeza, não é material. Não é matéria, não é algo que possa ser corrompido. Porque não faria sentido. Imagine, Deus valorizar tanto um prédio e selecionar pessoas para entrar nesse prédio. Em uma guerra por exemplo, esse templo não serve de apoio, como foi o caso na Ucrânia. Eu vi a preocupação dos membros sobre o templo ser destruído ou não na guerra, mais do que com vidas humanas. Estavam mais preocupados com o prédio. Não vimos esse templo sendo aberto para receber os membros durante a guerra, nem mesmo para proteger os considerados dignos. O templo é um enfeite bonito do mormonismo. Mas não acolhe. É realmente um edifícil frio, assim como as suas paredes. Até mesmo um templo Hindu ofereceu abrigo as pessoas na guerra. Teria sido muito bonito se o templo tivesse sido aberto, iria mostrar pelo menos uma humanidade. Mas isso não aconteceu, porque ali é a "casa de Deus" e deve ficar fechadinho, bonitinho. Para mim, isso não tem mais cabimento. Eu já visitei um templo muçulmano e um templo budista. E todos podem entrar e são bem recebidos. A gente aprende com as crenças deles lá dentro. Quando eu fui, eu estava firme na igreja, fui mesmo para conhecer. No templo budista nós sentimos muita paz no jardim e quando eu visitei, fiquei pensando: qualquer lugar que eu vá que tenha natureza, que tenha silêncio, eu sinto a presença de Deus. Existe um sentimento bom, isso não é exclusivo nos templos mórmons. Eu me lembro de quando eu entrava na catedral católica da minha cidade, um lugar muito silencioso. Antes de ser membro da igreja, com meus 14 anos, eu ia lá e ficava por um tempo sentada no banco, sentia muita paz. Nós sentimos paz nos jardins dos templos mórmons mas também nós sentimos paz no templo budista, ou dentro de uma catedral silenciosa. E então? Claro que Deus está em toda parte! E nos aproximamos Dele com o nosso coração, independente de onde estivermos. E com uma bela visão da natureza, com a calma e a tranquilidade que essas coisas nos trazem, é muito fácil. Nos sentimos extremamente bem. Não significa que aquele lugar é o único da Terra verdadeiro. Enfim.

Esse deus no mormonismo exclui muitos filhos, (a maioria deles), exigindo muitas coisas para si mesmo. Certa vez, uma amiga conversou comigo e me disse: "por que Deus precisaria de um prédio? Por que Ele precisaria de algo tão luxuoso? Ele é dono de tudo o que existe, de todas as riquezas do mundo. Por que ele precisaria do nosso investimento, do nosso dinheiro? Para que a gente fosse no templo para falar com ele?" Isso me lembra muito uma escritura no Novo Testamento em Atos 17:24 que diz: "O Deus que fez o mundo e todas as coisas que nele há, sendo ele senhor do céu e da Terra, não habita em templos feitos por mãos de homens, nem tão pouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa. Pois é Ele mesmo quem dá a vida e a respiração e todas as coisas." Sim, Deus não habita em templos e nem precisa ser servido. É bem nítido nessa escritura.

Então a igreja constrói esses templos e as pessoas precisam ir para fazer convênios maiores com Deus. Mas para entrar lá elas precisam estar servindo na igreja, contribuindo na igreja, trabalhando de graça. Vivendo em função dela. Para que você se considere um membro realmente digno e eles te considerem também, porque são eles que autorizam sua entrada. E principalmente, precisa estar em dia com seu dízimo, efetuando os pagamentos mensalmente. Uma pessoa me contou que sua recomendação foi tirada porque se divorciou e existe isso sim, por mais que você nunca tenha ouvido falar disso, existe. Pessoas que eram oficiantes também, depois do divórcio não puderam mais oficiar no templo. Isso acontece muitas vezes. A liderança também pode enrolar a pessoa e não renovar sua recomendação depois do divórcio. Então as pessoas pensam que precisam continuar em um relacionamento abusivo para não perderem todas as suas promessas e até mesmo a recomendação. E isso é muito profundo, toca muito nas pessoas, porque significa que elas vão deixar de ter uma autorização para entrar na presença de Deus. Ou pensam que devem pagar o dízimo pois não querem ter a renovação da "carteirinha" do templo negada, pois precisam dela. Então o membro da igreja fica ali, cativo, dependendo daquelas pessoas, da aprovação delas para tudo. 

O membro da igreja vai no templo pela primeira vez, mas depois precisa continuar indo outras vezes, para fazer batismos e outras ordenanças pelos falecidos, parentes e desconhecidos. Eles dizem que essas pessoas que já morreram precisam dessas ordenanças e então você tem que levar o nome deles lá dentro. Isso é como se fosse uma obrigação na sua vida, é praticamente um mandamento. Inclusive já ouvi várias vezes que o membro da igreja não é salvo sem os seus mortos. Ou seja, se você não realizar essas ordenanças pelas pessoas que já faleceram, você também corre o risco de não ser salvo no reino celestial. Então, temos que ir ao templo levando nome, levando nome...E tudo isso porque os membros precisam frequentar, precisa haver um motivo não é? se fosse para ir uma vez só e pronto, como eles iriam prender esses membros? Por isso eles precisam falar alguma coisa, fazer alguma coisa para que aquele membro dependa do templo e continue pagando o dízimo e continue ali. Mesmo que esses nomes sejam repetidos. Certa vez um oficiante confessou em um podcast que a fé dele ficou muito abalada, e se eu não me engano ele até deixou a igreja depois que ele soube que os nomes no templo se repetiam, fazem as mesmas ordenanças várias vezes para as mesmas pessoas. E quando ele foi questionar, falaram que não tem nome o suficiente para os membros voltarem no templo, para deixar o templo aberto, funcionando. Então tudo isso é um puro engano. Eles realmente enganam as pessoas. 

Sabemos que eles obrigam o membro a frequentar o templo, a ir várias vezes durante o ano. O membro se sente obrigado, querendo ou não, por causa da pressão, discursos, conselhos, testemunhos, ameaças veladas ou até mesmo diretas. Mas tudo é tão complicado lá dentro, para decorar coisas, e você não pode anotar em um papel ou depois em casa treinar aquelas coisas! Eles dizem: "você precisa voltar lá para relembrar, senão você vai se esquecer de tudo e é só lá que você vai ouvir essas coisas!" E é assim que você fica preso no templo, indo lá e repetindo tudo aquilo, porque não pode em outro lugar. É isso que eles querem, tudo é feito de propósito, é bem nítido agora enxergar isso. Você sai do templo sem poder comentar, sem poder anotar. Por que? Para as pessoas continuarem indo lá, voltarem. Elas têm medo de esquecer das falas e gestos, porque vão precisar decorar os simbolos, sinais, para que Deus as recebam no Reino Celestial. São senhas, são simbolos e sinais que precisam ser decorados para falar para os anjos na entrada do céu. Vou falar sobre esses símbolos e sinais mais para frente, que eu pensava que fossem sagrados. Mas na verdade, infelizmente eles não significam nada, são coisas sem sentido. Foi muito triste entender tudo isso, pelo tanto que eu acreditava nessas coisas. Vou escrever mais sobre isso na próxima parte.

Eu quero dizer também que quando eu ia no templo, eu queria me sentir próxima de Deus lá dentro. Eu queria ter um momento para ficar tranquila lá dentro, orando...Mas tudo é muito corrido. A gente não pode ficar em uma sala quietinho lá dentro. Se alguma oficiante te ver parado nos corredores ou sentado em uma sala, ela já pede para você fazer alguma coisa, trabalhar na lavanderia ou participar de alguma ordenança. Porque lá é trabalho, você não pode ficar de folga. Eu já ouvi esse tipo de comentária, é bem comum. "Aqui na casa do Senhor você vem para trabalhar". E eu queria ficar lá orando e sentindo a presença de Deus, porque eu acho que a espiritualidade é isso, é você ter um momento com Deus, é fechar os olhos e se conectar com a Fonte, estar ligada a tudo isso. Mas no templo era só corrreria. O único momento mais sossegado é quando você está assistindo ao filme, e às vezes tem gente que até dorme, não é? E mesmo parando um pouquinho ali você tem que ficar prestando atenção nas coisas que estão acontecendo. Por isso você não tem paz nem sossego. É claro que todo mundo sai de lá falando: "Nossa, que paz no templo, que maravilha!" Mas pense bem, todo mundo fala a mesma coisa, como é que você vai falar ao contrário? E além disso, você já acredita nisso, já se esforçou tanto, já incorporou tudo aquilo dentro de si. É o que você precisa dizer, o que o seu inconsciente foi programado para crer, dizer. Não tem como você falar ao contrário, mesmo que lá no fundo você se sinta diferente. Eu sentia uma angústia muito grande, principalmente porque era caravana, uma correria danada. Outra coisa, não tinha onde eu deixar meus filhos, eles não fazem um lugar ali que os pais possam confiar e deixar suas crianças. Sempre pensei nisso com um grande incômodo, eu pensava que a igreja estimula tanto os membros a terem filhos, mas os pais são deixados na mão. Eu já tive que deixar meus filhos com vizinhos nossos para que a gente pudesse viajar a noite toda, e chegar lá e esperar o templo abrir. Depois mal ter tempo de comer, entrar na sessão correndo e depois voltar logo para o almoço e já pegar o ônibus de volta para casa. Muitas pessoas idosas que precisavam se alimentar levavam seu alimento para comer em um lugar reservado ao lado da lojinha, com mesas e microondas. Se não fosse assim, precisava ir até um restaurante, tirar do próprio bolso para se alimentar. Então, já vi pessoas perdendo a sessão do templo porque precisavam comer, e o tempo era escasso, não conseguiam nem entrar. Ou às vezes não tinham com quem deixar os filhos, o casal revezava quando podiam ir juntos, não conseguiam entrar os dois ao mesmo tempo. Outras pessoas pagavam a viagem só para estar lá no jardim. Ninguém oferece ajuda, ninguém oferece suporte. Quando está chovendo também é terrível, porque as crianças também não tem onde ficar. Isso era uma coisa que me perturbava muito, não ter um lugar para as crianças, por que? 

Por que eu não podia ficar sossegada no templo que eu acreditava que fosse a casa do meu Pai, por que eu não podia entrar lá e ficar lá? Por que eu tinha que ficar correndo, fazendo as coisas lá dentro? Por que eu não podia ter um momento íntimo com Deus lá dentro? Então, o que é espiritualidade? O que realmente significa você ser espiritual? O que aquelas ordenanças representam espiritualmente para te tornar uma pessoa mais humana, mais próxima de Cristo, de Deus e fazer a diferença nesse mundo? O que representa de transformação? Quando finalmente você entra na sala celestial, que é um momento para você escapar da correria, fica todo mundo te olhando. Alguns ficam em pé, porque geralmente não há lugar para todos se sentarem na sala celestial. Não é permitido ficar de joelhos também. O que acontece é que você não pode também ficar muito tempo lá, porque você sente que a sala é pequena, que vai chegar mais gente, que vai incomodar, que você precisa dar lugar para os outros. Ou se for em caravana, o ônibus tem horário de partida, então você fica preocupado em perder o ônibus ou se atrasar e deixar os membros da ala esperando, geralmente irritados pela demora de alguns.

Diante de tudo isso que acontece, se pararmos para pensar, não é um lugar em que você renove as suas energias, a sua espiritualidade, descansa em Deus. Você não descansa e Deus, é sempre muito atribulado. É sempre muito tenso na hora das ordenanças, existe o medo de ficar para trás, de não conseguir colocar as roupas todas que são trocadas, se atrasar na hora de vestir os trajes e atrasar a sessão por sua causa, ou de não saber fazer as coisas e passar vergonha. Você não consegue ficar em paz total.

A maioria das pessoas gosta de ir porque pode ter aquele momento diferente da rotina de sempre para quem nunca sai da rotina. Ir para um lugar luxuoso, bonito. Encontrar amigos e conversar durante a viagem. Se torna uma experiência legal. Mas no sentido de estar lá dentro, foge muito das nossas expectativas.


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